terça-feira, julho 11, 2006

"Infinito enquanto dure"

Desconfie de autobiografias. Eu só digo isso. Desconfie mesmo. Porque é tão fácil se deixar levar pela memória. A menos que alguém tenha um diário com tudo que fez na vida escrito ali, bem detalhado, com impressões, esperanças, surpresas e receios, difícil lembrar anos depois de tanta coisa. Cada dia é cada dia. Tem muita coisa nova. E mesmo com diário... A nossa cabeça pode mudar tanto em tão pouco tempo. Eu sei, pode ser paranóia minha. Sou desconfiada mesmo. Mas não consigo ler autobiografias e achar que o autor está sendo sincero em tudo que diz. E quando falo na sinceridade de quem escreve, também não estou afirmando que a pessoa mentiu intencionalmente. Ela pode se deixar levar, facilmente, pelas ilusões que tinha na época. E isso muda tudo. E como muda.

Não é por isso que vou deixar de ler autobiografias, claro. Só que depois acabo sempre procurando outros livros sobre o mesmo assunto. Outros pontos de vista. Preciso disso. Analisando agora, pode até ser vício de jornalismo. Certo que é. Só que isso vem de antes de eu escolher a minha faculdade. Sempre que penso nisso acabo associando também a coisas de quando eu era criança.

Por exemplo, a casa em que eu morava quando era criança era enorme. Tinha duas varandas. As duas do mesmo tamanho. Eu costumava brincar na dos fundos, pois tinha medo da outra, que estava sempre mais vazia e tinha menos gente por perto. Aquela casa parecia ter tanto espaço, que cada dia eu inventava algo em algum dos cômodos pra me divertir. Só que hoje, quando vejo as fotos daquele tempo percebo que, pelas proporções, a casa não era tão grande assim. E as duas varandas que eu achava largas demais, não eram tão largas assim. E meus pais dizem o mesmo. Acho que eu é que era pequena.

Só que não adianta. A sensação que eu vou ter pra sempre é que a casa era enorme. Isso nunca vai mudar. E como então uma pessoa pode afirmar coisas em uma autobiografia com tanta certeza? Algumas coisas podemos relativizar, tentar analisar, mas outras não! Outro dia eu estava lendo uma autobiografia do Chaplin. Pô, sou fã do cara, mas isso não me impediu em nenhum minuto de desconfiar das coisas que ele escreveu. E agora quero ler o que já escreveram sobre ele. Vou continuar desconfiada. Tenho certeza... Mas já dá pra ter uma idéia melhor de como ele era.

E hoje tem tantas outras coisas envolvidas também. Tem o valor mercadológico das biografias. Tem o fascínio que as pessoas têm por celebridades. O que leva uma pessoa a escrever um autobiografia e publicá-la? Acho meio egocêntrico isso. Parece que ela quer se justificar pelas atitudes que teve algum dia, contar pontos pra aparecer na mídia (ganhar visibilidade, rechear a conta bancária), ou talvez ficar um pouco mais de tempo registrada na história, através das prateleiras das livrarias e sebos. É clichê, mas faz todo o sentido, ninguém morre enquanto ainda for lembrado.
Sobre isso:

1 Commentários:

Anonymous Anônimo disse...

mais, mais, quero mais!! escreve mais! hehehe
Bjos

segunda-feira, 17 julho, 2006  

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