sexta-feira, janeiro 26, 2007

No avesso, as palavras

"Varais tremulam um confortável cheiro branco do alto dos prédios de apartamento da cidade. Crianças vestindo bonés mal encaixados na cabeça montam suas bicicletas nas calçadas de paralelepípedos. A TARDE PASSA SEM QUERER. A maldade dos namorados enganchados em seus jeans ainda dorme. Ao fundo, harmonias dissonantes surgem em fade in. Segue-se uma batida duramente gingada. Entra uma melodia simpática, e SE OUVEM PALAVRAS SIMPLES. A poesia fácil de varal. Toma conta do céu como se fosse nuvem brava, mas não mostra os dentes. Nas paradas de ônibus, as bocas cansadas da espera repetem o que ouvem num sussurro involuntário. O OLHO MORTO EM ALGUM PONTO QUE NÃO EXISTE percebe a passagem periférica do bando atravessando a rua. É um bando mulambo-chique desaforado e tímido. Tocam sua música e enganam que se preocupam apenas com ela. Mas bem querem que ela encharque o concreto e grude no asfalto pra nunca mais sair. Querem que o mundo tome de volta o filho que ainda não sabe que gerou. Não são órfãos nem pretendem ser pais. Só fazem o barulho que precisam fazer para que os outros ouçam o barulho que precisam escutar...


...E eu ouço eles chegarem com a seriedade com que ouço um conselho furado de quem já me salvou a pele. E sinto saudade de alguma coisa que eu ainda jamais vivi. Tudo só isso."

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