No avesso, as palavras
"Varais tremulam um confortável cheiro branco do alto dos prédios de apartamento da cidade. Crianças vestindo bonés mal encaixados na cabeça montam suas bicicletas nas calçadas de paralelepípedos. A TARDE PASSA SEM QUERER. A maldade dos namorados enganchados em seus jeans ainda dorme. Ao fundo, harmonias dissonantes surgem em fade in. Segue-se uma batida duramente gingada. Entra uma melodia simpática, e SE OUVEM PALAVRAS SIMPLES. A poesia fácil de varal. Toma conta do céu como se fosse nuvem brava, mas não mostra os dentes. Nas paradas de ônibus, as bocas cansadas da espera repetem o que ouvem num sussurro involuntário. O OLHO MORTO EM ALGUM PONTO QUE NÃO EXISTE percebe a passagem periférica do bando atravessando a rua. É um bando mulambo-chique desaforado e tímido. Tocam sua música e enganam que se preocupam apenas com ela. Mas bem querem que ela encharque o concreto e grude no asfalto pra nunca mais sair. Querem que o mundo tome de volta o filho que ainda não sabe que gerou. Não são órfãos nem pretendem ser pais. Só fazem o barulho que precisam fazer para que os outros ouçam o barulho que precisam escutar...
...E eu ouço eles chegarem com a seriedade com que ouço um conselho furado de quem já me salvou a pele. E sinto saudade de alguma coisa que eu ainda jamais vivi. Tudo só isso."
...E eu ouço eles chegarem com a seriedade com que ouço um conselho furado de quem já me salvou a pele. E sinto saudade de alguma coisa que eu ainda jamais vivi. Tudo só isso."
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