quinta-feira, janeiro 04, 2007

Eles são eu, você e todos que conhecemos


Bons diálogos, bons atores e muita criatividade fazem um bom filme. Essa é minha opinião. Assisti ontem a Me and You and Everyone We Know, da Miranda July, e o filme definitivamente me ganhou. Não só pelos diálogos maravilhosos mas pela multiplicidade de temas que aborda e pela delicadeza com que o faz.

Lá pela metade do filme, Christine (Miranda July) encontra Richard (John Hawkes) na saída da loja em que ele trabalha. Na verdade não "encontra", simplesmente. Ela vê ele ir em direção à porta e vai atrás. Quando consegue alcançá-lo, os dois começam a travar um diálogo completamente metafórico. Parece que cada olhar, pausa, silêncio, cada gesto dos dois age como personagem do filme nessa hora.

Christine: Eu não estou seguindo você. Estacionei meu carro para lá.

Richard: No smart Park?

Christine: Não, no Front Street

Richard: O meu ficou no Smart Park.

Christine: Então, no final da próxima quadra vamos nos separar. Na Tyrone Street.

Richard: Aquela placa é na metade do caminho. Bem na metade do caminho.

Christine (sorrindo): Tipo aquele ponto num relacionamento em que você se dá conta de que não vai ser pra sempre...

Christine: ...E já avista o final. A Tyrone Street.

Richard: Mas nós nem chegamos lá ainda.


...
Richard: Ainda estamos na parte boa. Nem estamos cheios um do outro ainda.

Risadas...

Christine: Eu não estou nem um pouco cheia de você. E olha que já faz, tipo, seis meses, não?

Richard: Seis meses? Então a placa é o marco dos oito meses? Só vamos ficar um ano e meio juntos?

Christine: Sei lá. Eu não quis parecer presunçosa. Nem sei se você é casado...

Richard: Não sou.

Richard: Bom... Sou separado. Nos separamos mês passado.
...
Richard: Eu estava pensando na Tyrone... daqui a vinte anos, pelo menos.

Christine: Ah, é?

Richard: É...

Christine: Na verdade, a Tyrone, pra mim,, era nós dois morrendo de velhice. Teria sido uma vida inteira juntos. Essa quadra.

Richard: Perfeito. Vamos considerar assim.

Depois disso, os dois ficam sem assunto. Apenas continuam caminhando lado a lado num silêncio constrangedor, em direção ao fim da rua. Chegando à esquina, uma placa de trânsito é filmada de relance: "STOP". Obviamente a placa não foi filmada por acaso. Nessa hora ela vira coadjuvante na cena. É simbólica e entra em equilíbrio com os outros elementos e a falta de palavras dos personagens. Eles páram ao lado da placa. Christine olha para Richard, sorri, inocentemente...

Christine: Bem, não dá pra evitar, todo mundo morre.

Richard: Posso acompanhar você até seu carro?

Christine: Talvez a gente deva se dar por satisfeito por ter tido esta vida juntos. É bem mais do que a maioria das pessoas consegue.

Richard: Certo.

Christine: Certo...

Christine: Bem, não tenha medo.

Richard: Tá...

Os dois sorriem

Christine: Vamos lá.

Richard: Vamos lá.

Eles então caminham para lados opostos. Ela olha pra trás...

6 Commentários:

Anonymous Anônimo disse...

Hum, fiquei interessada por este filme!!! Tem em DVD?

sábado, 06 janeiro, 2007  
Anonymous Anônimo disse...

Tem sim, Fer. Ele é de 2005.

Tem muitas outras partes legais, além dessa que eu postei. A fotografia do filme também é excelente ;)

sábado, 06 janeiro, 2007  
Anonymous Anônimo disse...

Legal!!! E procuro o título em português?

domingo, 07 janeiro, 2007  
Anonymous Anônimo disse...

Ai, esqueci de dizer, hehe
Em DVD tu encontras por Eu, Você e Todos Nós.

Hoje fui ver os curtas dela, na Usina do Gasômetro. Me decepcionei um pouco. São cinco curtas, e em todos ela segue mais ou menos a mesma linha viajandona. O longa tem uma lógica, por isso prende a atenção. Já os curtas parecem uma mistura de documentário e filme sem nexo. Experimentalismo demais que me cansou... Enfim. Fico com o longa :)

Acho que hoje foi o último dia da Mostra dos Curtas dela, não tenho certeza. Beijos, Fer!

domingo, 07 janeiro, 2007  
Anonymous Anônimo disse...

No meu filme, os dois olham pra trás....

terça-feira, 09 janeiro, 2007  
Anonymous Anônimo disse...

Valeu, Cris!!!
Acho que esse título não me soa estranho hehe

terça-feira, 09 janeiro, 2007  

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