domingo, maio 28, 2006

Hey! You've got to hide your love away

Lembrei-me do leiteiro



Que roubou, roubou. Que não foi a primeira vez, é verdade. Mas...
Tirem suas próprias conclusões dessa barbárie.



A Morte do Leiteiro

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, maio 24, 2006

On a Friday


Era assim que o Radiohead se chamava originalmente, em referência ao único dia da semana em que os membros do grupo conseguiam se reunir pra ensaiar. Depois, influenciados por uma música do True Stories , do Talking Heads, adotaram o nome atual.

Vi numa dessas colunas diárias de não lembro qual jornal (bem precisa, eu!) que o Radiohead tinha um blog. Na real eu não conhecia nem o site deles. Sempre foi essa coisa meio despretenciosamente interessada. Gosto das músicas (o que dizer de Creep?? Pra mim a melhor), mas nunca tinha me dado ao trabalho de procurar página na internet. Tá. Mas o blog me interessou. Gostei. Existe desde agosto de 2005 e tem fotos (muuuuitas) de ensaios da banda, letras perdidas entre um post e outro, registros da passagem de um dia cansativo, links. Enfim, coisas cotidianas de cada um dos integrantes que não caberia colocar numa página oficial. Só não tem espaço pra comentar...

Também: The Eraser, o primeiro álbum solo do Thom Yorke, é pra julho. São nove faixas e ele simplesmente compôs, interpretou e tocou todos os instrumentos em todas elas.

Ainda: Pra provar que o lançamento do disco solo não tem nada a ver com uma possível separação da banda, o Thom Yorke postou o link pra página do The Eraser no blog do Radiohead. É bem criativa. Tem toda uma animação, áudio... Cheinha de efeitos legais.

O track-list do álbum:

1. The Eraser
2. Analyse
3. The Clock
4. Black Swan
5. Skip Divided
6. Atoms For Peace
7. And It Rained All Night
8. Harrowdown Hill
9. Cymbal Rush

;)

quinta-feira, maio 18, 2006

Tudo depende do ponto de vista

quarta-feira, maio 17, 2006

Desalento



E ali
Sentado naquele banco frio
Como folha carregada pelo vento
Ele viu a vida passar correndo