sexta-feira, dezembro 29, 2006

Que venha 2007!!!!
Enfim... caramba... deixa eu balançar a cabeça pra pensar um pouco melhor, que eu já to meio perdida nesses últimos dias! Não sei se empurro o que falta fazer pro próximo ano, ou se me puxo pra deixar tudo em dia. Não me estresso. Daqui a pouco amanhece. Deixa vir o dia quase acabando, e a música velha soar como nova.

Só volto aqui depois da virada do ano. Espero, portanto, que todos tenham uma ótima festa, que comecem o ano com o pé direito e com os melhores pensamentos e sentimentos. Que 2007 seja uma gargalhada arteira/artéria/pulso, o que vier!
Até!
PS. Escrever isso ouvindo na rádio Astronauta de Mármore definitivamente tem cara de fim de ano. Não era mais o mesmo mas estava em seu lugar.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Cinema e preservação: make a movie that matters!


O NUFF Global (Nordic Youth Film Festival) é um evento que procura unir realizações cinematográficas a causas políticas e sociais. O projeto, com foco inicial em problemas na região nórdica, expandiu-se. Agora é GLOBAL.

Nesse ano, o concurso teve uma categoria que premiou roteiros sobre alterações climáticas em todo o mundo. Entre os 16 vencedores, a jornalista Carolina Berger, de Santa Maria (RS) foi a única da América Latina a levar os 5 mil dólares para produzir o filme. A idéia de Carolina é rodar um documentário sobre o processo de desertificação no oeste do Rio Grande do Sul. Isso será retratado a partir de uma família de produtores rurais da região. Segundo o regulamento, o filme deve ter, no máximo, 15 minutos e estar pronto para apresentação entre os dias 1º e 10 de junho de 2007 em Tromso, na Noruega, onde acontecerá o festival.

Em Santa Maria, o documentário foi inscrito na Lei de Incentivo à Cultura (LIC), que está avaliando os projetos a serem aprovados para 2007.

* Um pouco mais sobre o NUFF

* E falando nisso:
Segundo relatório da ONU, a ser apresentado oficialmente em 2007, os efeitos das alterações climáticas podem durar séculos, mesmo que as emissões de gases com efeito estufa fossem eliminadas hoje. Parte do sobre-aquecimento global já não pode mais ser evitado. Mais aqui.

The Kiss


"If I told you a secret
You won't tell a soul
Will you hold it
and Keep it alive?"

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Laiááá, laiááá, laiáááá

Que fiz? Que fará? Que faremos? Que farei...

Tenho um olhar desconfiado pra dezembro no calendário. Acho um mês muito ansioso, pelo menos pra mim. Passa muito rápido. E outra. Quase ninguém vive em dezembro. Todos já estão pensando em janeiro, no ano-novo, todos compram presentes pra se preparar pro natal, que é quase o ano-que-vem, todos compram passagens pra programar as férias de janeiro. Todos correm demais. Ninguém vive pra dezembro.

Ontem mesmo, de noite, eu estava voltando de viagem. Não gosto muito de dormir em viagens. Gosto de ficar pensando, viajando nas coisas. Olhando pela janela, vi uma estrela cadente. Fazia muito tempo que eu não via uma. E nem mesmo assim soube fazer um pedido. Foi rápido demais. Pedi tantas coisas ao mesmo tempo que confundi a pobrezinha. A primeira coisa que pensei depois de me decidir por um único pedido foi que eu quero coisas demais. E quero todas as mesmo tempo. Se é bom ou ruim, isso não sei. Mas daí veio o link pras coisas que neste ano (sim, 2oo7) não vou deixar que se repitam. E pras coisas que quero de sobra em 2007.

Eu sempre disse que não sei fazer listas. Elas se tornam intermináveis. Meus pedidos de ano-novo são listas. Odeio ter que ficar escolhendo algumas coisas e excluindo outras. Então opto por palavras, assim, bem genéricas, que me fazem bem. O essencial. O que vem a partir daí é surpresa. Saúde, amor, música e criatividade. Um pouco mais do que isso, um pouco menos, trocando letras, é por aí mesmo que tudo fica. Eu decido.

* Talvez também um pouco de pop art pra colorir. Mais arte, menos vento na cabeça.

* Caderno de anotações e caneta pra sempre na bolsa

* "Alôooo, já to indooo... só tenho que dar um jeitinho aqui bem rápido". O show é ótimo. Em janeiro tem outro.

* Hoje é aniversário do meu pai. Liguei pra ele, mas queria estar mais perto. Meio século de vida é a idade dele agora. A minha ainda não chegou à metade nem de cinqüenta, "mas tu chega lá, logo, logo", diz ele. "O tempo passa rápido".

sexta-feira, dezembro 22, 2006


Ensina-me a usar as palavras
Na estrada dos versos vagos
Troca ponto, muda o sentido
Vê o gesto? Traz tua vontade
Aprende a ler olhares mudos
Brinca com instantes triviais

Senta calado. Espera. Assiste
à sede passar por ti sorrindo
Sente o gosto. Engole áspero
Então deixa agora escorrer a
gota salgada do canto do olho
Palhaço de sorriso entediado
A graça não demora a passar

Quero um pedaço do globo
de cera e a chama acessa
Quero o teto a balançar
na ponta dos pés
Pinta a noite de
um sossego
duradouro
Que seja de
fantasias e deleites,
espontâneos, propositais, e de
uma penumbra que traga personalidade
e valsas-cores às sombras que a parede há de abrigar.

Luminária

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Três notícias boas

1 * Estou em férias da faculdade

2 * Meu estágio na rádio da UFRGS está confirmado a partir de janeiro. Uhu!

3 * É oficial. O Smashing Pumpkins está gravando um álbum novo e em 2007 volta a fazer shows. O disco vai ser o primeiro desde 2000, ano em que a banda se separou.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Pensamentos em curva


Criei entrelaçando letra por letra
Amarrei bem as pontas e nasceu já como um nó
Apertei até a garganta. Nada aconteceu
No fim, virou círculo vicioso, espiral.
O Infinito preso em uma gaveta
E a chave, perdi.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

But it's 5!


Architecture in Helsinki

Recém-chegado na lista de links: Papel Continuo
O Ed diz, ali embaixo, que o Usina é tudo, menos uma usina do caos. Verdade, se eu levar em consideração que tenho tentado manter essa página o mais organizada possível. Contradigo-me, portanto. O caos não tem sido muito bem-vindo por aqui. Mas acho, na verdade, que esse espaço anda meio abandonado. Tem links misturados, não tem um espaço específico pra literatura, o que acho uma falha minha, já que boa parte dos links são pra páginas dessa área. Também andei encontrando uns blogs ali do lado que já foram desativados... Tem palavras velhas e idéias jogadas ao vento. Talvez seja uma boa sair do Blogger, que não anda me agradando muito. Espero férias, mesmo. Espero logo poder organizar minhas duas casas. Essa, virtual, e a outra, home sweet home. Preciso novamente fazer uma faxina geral no meu "Favoritos" também. Quero organizar meu material da faculdade, que no meio de toda essa bagunça, ficou desordenada no tempo e no espaço. Todo o material de cinema, roteiros, coisas inacabadas, textos que eu nem consegui ler, está misturado com material de fotografia, textos de literatura, revistas. Sabe? Coisas de que eu gosto muitíssimo. Mas tá uma bagunça... Quando eu criei esse blog fui meio teimosa; dizia pros meus botões que eu não postaria aqui coisas muito pessoais. Esse blog não deveria ser um diário, muito menos o muro das lamentações. No fim, acabo pensando que talvez seja, sim, meu diário. É meu espaço. Não porque nele descrevo detalhadamente os meus dias, mas descrevo partes pequenas deles, e as que mais me agradam. Assunto muito interessante, por sinal, esse sobre a contextualização de blogs, alguma tentativa de definição, mundo virtual x mundo real, ego e voyeurismo na blogosfera. Papo para um próximo post, com certeza.

* Falando em cotidiano, hoje ligaram de novo querendo pedir música. Dessa vez eu não sacaneei; disse logo que não era da rádio. Até porque era uma senhora muito simpática.

Espero também nas próximas semanas rever alguns amigos. Alguns até tenho visto com freqüência, mas SÓ visto. Não tenho curtido meus amigos do jeito que gosto. E o jeito que gosto é o menos burocrático possível. É deitada na grama da Redenção, ou em bons papos em qualquer bar, café, meio-fio, seja lá o que for, é o jeito que bons amigos merecem.

* Cinema. Ah, o cinema. Sim! Voltarei a freqüentar as salas de cinema. Coisa boa!

Enfim, a partir da semana que vem me considero oficialmente em férias da faculdade. Engraçado é que um pouco antes de vir escrever aqui eu já estava montando minha grade de horários para o próximo semestre...

* Planos para janeiro e/ou fevereiro incluem um estágio voluntário na Rádio da Universidade. Pra quem odiava radiojornalismo quando começou a faculdade, nada mal.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Sweet Voice

Versos bonitos

(...) Vai acontecer trapalhada, caipirinha, açúcar por sal.
Vai acontecer uma mosca sem asa, reumatismo, mais amizade, vai acontecer um tufão.
Vai acontecer cocaína em farmácia no ano 2010.
Vai acontecer ainda formiga, leitão, senha pública, minha filha querida!, enchente. Desânimo, avassaladora paixão.
Acontecer de cachorro casar...
Vai acontecer a respiração. (...)


Paulo Ribeiro, no Vitrola dos Ausentes

Por que as coincidências? Não sei. Não me pergunte coisas que não tenham resposta. Assim tu vais gerar o silêncio. Outro dia o acaso não deixou que eu perdesse no ônibus um broche que eu adoro. Hoje foi um verso que li num blog, e exatamente no mesmo momento o verso tocou em uma música na rádio. Salvou uma memória legal que eu tinha. Trouxe-a pra perto. Há alguns anos achei um papel com um nome em um livro na biblioteca da escola. Foi no terceiro ano, ainda. O livro era Os Ratos, do Dyonélio Machado, mas isso não tem muita importância. Não sei. Diante do que aconteceu depois... Alguns dias depois conheci a pessoa dona do nome no papelzinho. Foi por acaso. Ela se tornou muito presente em todos os meus dias a partir dali, por bons anos. Podem dizer que é mentira. Até entendo se não acreditarem. Já aconteceu de eu estar pensando em uma pessoa que não via há bastante tempo e ela aparecer, de repente. Mas isso é comum, não é? Pode ser. Vive acontecendo com a minha irmã. Comigo faz tempo que não acontece. Conheço uma guria que também se chama Cristiana. Conheci ela no cursinho, em 2001. Chamou a minha atenção porque ela usava um anel igual ao meu. E ele não era muito comum. Era um anel de prata, com pedrinhas verdes, que eu ganhei dos meus pais quando fiz 15 anos. E esse anel, até meu aniversário, havia sido da minha mãe, que por sua vez, ganhou-o do meu pai no dia em que eu nasci. Comentei com a menina sobre o anel. E ela me disse que havia ganho dos pais dela, de aniversário. Volta e meia eu encontro essa guria pela faculdade. Pensar uma coisa e outra pessoa dizê-la, também acontece algumas vezes. Na terça-feira uma amiga me lembrou de algo que eu já quase perdia na memória. Foi no início da faculdade. Eu ia apresentar um trabalho com ela e quando eu cheguei na aula, de manhã, ela vestia roupas iguais às minhas. Calças jeans, blusão branco, jaqueta vermelha, botas. E pra completar, brincos de argola prateados!! Ninguém combinou nada. Pior foi parecer banana de pijama na hora de apresentar o trabalho. Toda a sala achou que havíamos combinado. Ela é loira, de olhos azuis. Já cansei de usar a carteirinha dela pra pegar ônibus, e o cobrador nunca percebeu. Até hoje ele deve achar que eu me chamo Mariane. Também já acreditaram que éramos irmãs, e mantivemos a mentira numa boa. Já pensei com saudades numa pessoa e recebi uma mensagem dela no mesmo minuto. Outras vezes percebi coincidências e não comentei, porque por ser tão coincidente pareceria forçado. Dizer as mesmas coisas na mesma hora também acho legal. Vai saber. Eu não tenho explicação. Só acho que coincidências aproximam as pessoas. O surpreendente sempre é uma ótima desculpa pra puxar assunto. E hoje, fazendo um apanhado geral, penso que algumas das melhores pessoas que encontrei por aí surgiram de coincidências.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Hoje eu vou ser sacana

Cansei. O nome da rádio é Sara Brasil (deve ser essa. Me dei ao trabalho de procurar a dita). E o telefone de lá deve ter um número parecido com o daqui de casa. Não sei que tipo de engano acontece, mas volta e meia, alguém liga pensando que é da rádio. Pior... O nome da minha irmã é Sara...

Criatura perdida: Alô? É da Sara?
Cris: Sim
Criatura perdida: Ah, Queria pedir uma música
Cris: Aiii, não! Não é da Rádio!

Tá. Hoje a rádio deve ter lançado alguma promoção, e um monte de gente acabava ligando pra cá. Depois na terceira ligação, resolvi me divertir.

Criatura totalmente perdida: _ Oi! É da Rádio?
Cris: ...

(a lâmpada pisca... Idéia. Hmm)

Cris: _ Sim
Ctp: _ Eu queria pedir uma música
Cris: _ Claro, qual o nome dela?
Ctp: _ Aiii, eu não sei direito. É um funk... Mas eu não sei o nome...
Cris: _Querida, sem o nome da música eu não tenho como te ajudar...
Ctp: _ Mas eu sei ela, posso cantar. Tem uma parte assim, ó... Vê se tu conhece...

Juro!! A guria começou a cantar o funk pra mim no telefone! Não me aguentei. Tapei um pouquinho o telefone enquanto ela cantava e me matei rindo. Deixei a louca terminar de cantar e voltei.

Cris ("tri entendida do assunto"): _ Ahhhh!! Sei qual é a música, sim.
Ctp (aliviada): _ Ai, que bom... Eu não conseguia lembrar
Cris: _ Não te preocupa, ela vai tocar no próximo bloco
Ctp: _ E o CD? Eu já to concorrendo ao CD também?
Cris: _ Tá sim.
Ctp: _ Mas eu não tenho que deixar meu telefone?
Cris: _ Não, não precisa... A rádio já tem teu nome no cadastro
Ctp: _ Ahhh bom... Então, tá... Brigada!
Cris: _ De nada. A Sara Brasil agradece a tua ligação...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Links

* Gosta de sebos: Estante Virtual
* Gosta de pôsteres: AllPosters.com

EXPO H.


O designer gráfico Henry Lichtmann mostra seus trabalhos pela primeira vez. A exposição acontece a partir de amanhã, dia 7, na Galeria Mundo Arte Global. Passa lá.

terça-feira, dezembro 05, 2006

NUNCA vai ser demais

Tanta gente já falou, falou, e repetiu. Eu vou ser mais uma a fazer isso. Cuidado no trânsito nunca vai ser exagero. Ser inconseqüente na direção NUNCA vai significar risco somente pra UMA VIDA, não importa se tu estás sozinho ou com mais gente no carro. Não corre. Não participa de rachas. Respeita a sinalização. E, por favor, aquela velha e VERDADEIRA história: SE BEBEU, NÃO DIRIJA. SE VAI DIRIGIR, NÃO BEBA. Gente demais já perdeu a vida de forma estúpida e por causa de falta de cuidado no trânsito. E gente demais já chorou por ter perdido alguém de quem gosta dessa forma. Não queira ser o PRÓXIMO em nenhum dos casos.

sábado, dezembro 02, 2006

Eu? (meio e fim)

Ok. Vamos lá. Entrem, tirem os tênis e fiquem à vontade... Essa história precisa de um fim. Da última vez em que eu escrevi nesse espaço havia uma criaturinha minúscula deitada no meu colchão, e presa nas minhas unhas. A miniatura. Ela continua lá...
* * *
Quando encostei minha mão do colchão, pude ver que a miniatura, fraca, já, deixou o corpo amolecer. Sentiu o tecido do lençol massagear as costas levemente e deu-se uns minutos, talvez de dor, talvez de NEUTRALIDADE, não sei. Mas por alguns minutos, ela parecia morta.
* * *
Morta de olhos abertos e respiração vagarosa e um olhar fixo me encava sem expressão e nada no pensamento e um silêncio no quarto e aquela coisa de ficar sem graça porque alguém te encara e tu não sabe o que fazer se olha pro lado se olha nos olhos se dá uma risada porque não era hora de dar risada afinal ali alguém devia sentir dor e isso me deixava encabulada e ao mesmo tempo me igualava à miniatura ela devia ter HUMANIDADE e sentimento que sente na PELE e nas sobrancelhas e no riso que vem no cantinho da boca mas ela não ria ficava muda e me envergonhava por conseguir me encarar e eu não conseguir manter uma linha pontilhada por onde minha visão caminhasse até a dela
* * *
Comecei a empurrar de leve aquele corpinho que estava soterrado nas minhas unhas. E ele mal se movia, sabe? Dor, não sei se sentia, mas fechou os olhos e tentou ajudar. Aos poucos, e não sem pena, fui puxando pela cinturinha e, de tempos em tempos, dava uma parada pra não ser uma coisa tão BRUSCA e traumatizante. Fui descobrindo a delicadeza nos meus próprios gestos. “Vamos lá, de novo, só mais um pouquinho e tu vai estar livre de tudo isso. Faz um esforço e me ajuda a te ajudar.”
O último puxão foi mais severo, e acompanhado de um som abafado, de alguém que segura o grito, e que guarda a sensação de dor pra começar a aproveitar a liberdade novamente. Pronto. Agora EU era UMA, e ELA era OUTRA novamente. E nossas mãos não se tocavam mais.
A miniatura ficou ali, deitadinha por um tempo ainda na minha cama. Uma pontinha de sangue manchou o lençol e vi que alguém precisava de um curativo. Recortei em mil pedacinhos um esparadrapo, e o ALGODÃO nem sentiu a falta dos fios que foram removidos do rolo. Eis um curativo, que, embora envolvesse uma margem muito maior do que o local machucado, ajudou (gosto de pensar que). Novamente minha displicência, involuntária, quem sabe, em cuidar de algo tão pequeno.
* * *
Na verdade era a primeira vez que eu realmente via essa minha falta de tato como um defeito. Nunca fui de ter muitos cuidados com as pessoas. Sempre vivi só, e de mim nunca ninguém precisou cuidar muito. Era simples, sabe, viver. Era o que eu achava. Que isso de tocar, e sentir, passava despercebido. Eu era uma pessoa crua mesmo, que SENTIA quando sentia calor, que SENTIA quando sentia cócega, que SENTIA quando sentia o gelo derreter na mão, ou quando a gaveta caía sobre o dedão do pé. Era isso que eu sentia. Mas nunca senti um beijo de leve na testa ou um dedo que passeia sem rumo pelo braço, quase sem ser notado. Chego à conclusão de que talvez eu nunca tenha parado pra pensar nessas coisas. Comodismo, talvez. Mas todo esse processo de salvar uma criatura tão pequena revirou na minha cabeça tantos conceitos. Inclusive o de ter cuidado com alguém além de mim.
* * *
A miniatura, depois de um dia tão agitado, pegou no sono. Deixei que dormisse, mas não me afastei do quarto. E se fugisse? E se caísse? E se MORRESSE? Fiquei observando por um tempo aquela vidinha esparramada na minha cama. Quando acordou, algumas GOTAS de leite foram o suficiente, e eu nem precisei comprar mais pão. E ela até umas palavrinhas soltou. Descobri que falava, e como adulta. E como adulta me agradeceu por ter sido gentil e ter tido cuidado. Ora, vejam só. Fiquei feliz.
Naquele dia não perguntei nada sobre a origem da miniatura, nem como ela havia parado ali. Se nasceu de mim, não sei. Por onde anda a família... Parece brincadeira, contando. Mas e se tivesse família? Não perguntei. Fui EGOÍSTA e resolvi desfrutar daquela companhia tão frágil e que me fazia sentir um pouco de poder, por ter alguém dependente de mim.

E assim foram os dias seguintes também. Com o tempo, fui me acostumando a acordar de manhã e olhar para o lado da minha cama. Ali eu havia montado uma casa, dessas de BONECAS, para a miniatura. Era ali que ela passava os seus dias de tédio, e geralmente no canto do corredor, entre a sala e o quarto da casinha, eu a encontrava sentada, a ler qualquer coisa, quando eu voltava do trabalho. Foi-se construindo uma relação de amizade, mas dessas de se olhar de longe, sem toques nem muitos abraços. Eu nunca me curaria dessa minha falta de sentidos, sei. Mas gostava da companhia daquele ser. Que talvez fosse eu.

Estranho eu nunca ter procurado uma explicação pra isso. Mas da mesma forma cômoda como aquele ser nunca me perguntou muito sobre a minha vida, eu também mantive uma curiosa distância. Éramos EU, e EU. EU grande, e EU pequena. EU dominante, e EU dominada.

Mas ela não me atrapalhava, e eu podia sentir que a casa não estava mais sozinha. Eu não era mais sozinha. Um dia cheguei em casa com um vaso de plantas e coloquei na janela. A casa precisava de verde, de COR, entende? A casa precisava respirar um pouco mais. E também não demorou muito pra que eu percebesse o bem que tudo aquilo estava me fazendo. O surpreendente havia feito meus dias menos INERTES.
Numa manhã acordei, olhei para a casa ali no chão, e as janelinhas estavam fechadas ainda, como de costume. Eu sempre acordava primeiro. Um depois do outro, levantei da minha cama. O trabalho me esperava. E no fim do dia, quando cheguei, percebi que as janelinhas continuavam fechadas, mas que na porta, tão pequena, havia um bilhete...
A AUSÊNCIA também é um sentido?