
Bons diálogos, bons atores e muita criatividade fazem um bom filme. Essa é minha opinião. Assisti ontem a
Me and You and Everyone We Know, da
Miranda July, e o filme definitivamente me ganhou. Não só pelos diálogos maravilhosos mas pela multiplicidade de temas que aborda e pela delicadeza com que o faz.
Lá pela metade do filme, Christine (Miranda July) encontra Richard (John Hawkes) na saída da loja em que ele trabalha. Na verdade não "encontra", simplesmente. Ela vê ele ir em direção à porta e vai atrás. Quando consegue alcançá-lo, os dois começam a travar um diálogo completamente metafórico. Parece que cada olhar, pausa, silêncio, cada gesto dos dois age como personagem do filme nessa hora.
Christine: Eu não estou seguindo você. Estacionei meu carro para lá.
Richard: No smart Park?
Christine: Não, no Front Street
Richard: O meu ficou no Smart Park.
Christine: Então, no final da próxima quadra vamos nos separar. Na Tyrone Street.
Richard: Aquela placa é na metade do caminho. Bem na metade do caminho.
Christine (sorrindo): Tipo aquele ponto num relacionamento em que você se dá conta de que não vai ser pra sempre...
Christine: ...E já avista o final. A Tyrone Street.
Richard: Mas nós nem chegamos lá ainda.
...
Richard: Ainda estamos na parte boa. Nem estamos cheios um do outro ainda.
Risadas...
Christine: Eu não estou nem um pouco cheia de você. E olha que já faz, tipo, seis meses, não?
Richard: Seis meses? Então a placa é o marco dos oito meses? Só vamos ficar um ano e meio juntos?
Christine: Sei lá. Eu não quis parecer presunçosa. Nem sei se você é casado...
Richard: Não sou.
Richard: Bom... Sou separado. Nos separamos mês passado.
...
Richard: Eu estava pensando na Tyrone... daqui a vinte anos, pelo menos.
Christine: Ah, é?
Richard: É...
Christine: Na verdade, a Tyrone, pra mim,, era nós dois morrendo de velhice. Teria sido uma vida inteira juntos. Essa quadra.
Richard: Perfeito. Vamos considerar assim.
Depois disso, os dois ficam sem assunto. Apenas continuam caminhando lado a lado num silêncio constrangedor, em direção ao fim da rua. Chegando à esquina, uma placa de trânsito é filmada de relance: "STOP". Obviamente a placa não foi filmada por acaso. Nessa hora ela vira coadjuvante na cena. É simbólica e entra em equilíbrio com os outros elementos e a falta de palavras dos personagens. Eles páram ao lado da placa. Christine olha para Richard, sorri, inocentemente...
Christine: Bem, não dá pra evitar, todo mundo morre.
Richard: Posso acompanhar você até seu carro?
Christine: Talvez a gente deva se dar por satisfeito por ter tido esta vida juntos. É bem mais do que a maioria das pessoas consegue.
Richard: Certo.
Christine: Certo...
Christine: Bem, não tenha medo.
Richard: Tá...
Os dois sorriem
Christine: Vamos lá.
Richard: Vamos lá.
Eles então caminham para lados opostos. Ela olha pra trás...